quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Ipês

A flor nacional
O ipê, a mais bela e conhecida árvore brasileira, inspira poetas, escritores, namorados e até políticos



Os ipês florescem em branco, roxo (quando podem chegar a 40 metros de altura) e amarelo, como este, que tem menor porte e é o mais cultivado e apreciado
Como uma chuva de ouro
no ar, parada
Na fronde dos ipês, no
fervedouro
Desse amarelo e
mágico tesouro,
Vejo a Pátria pairar,
simbolizada:

É aqui tão fácil
encontrarmos ouro,
Que o acharemos nas árvores da estrada,
E a quem quiser essa riqueza é dada,
E o que é nosso e de todos logradouro.
Martins Fontes,



É a árvore brasileira mais conhecida, a mais cultivada e, sem dúvida nenhuma, a mais bela. É na verdade um complexo de nove ou dez espécies com características mais ou menos semelhantes, com flores brancas, amarelas ou roxas. Não há região do país onde não exista pelo menos uma espécie dela.

O florescimento exuberante é seu traço mais marcante e o que a torna tão espetacular. Qualquer leigo tem curiosidade sobre seu nome ao contemplar a beleza de seu florescimento. Só não chamou a atenção de Cabral porque não devia estar em floração no Descobrimento. Uma infelicidade, porque isso acontece a partir de abril.

Ao longo destes 500 anos, o ipê foi amplamente cultivado por sua beleza, mas seriam a utilidade e a durabilidade de sua madeira que o tornariam tão conhecido. Seu uso na estrutura do telhado das igrejas dos séculos XVII e XVIII foi o responsável direto por tais monumentos ainda existirem, uma vez que nem as telhas nem a alvenaria resistiram ao tempo.

A exuberância de seu florescimento encantou namorados, escritores e poetas. Nenhuma outra árvore foi tão cantada em verso e prosa. São dezenas de poesias, contos e sonetos. Inspirou até políticos, que, por meio de um projeto aprovado pelo Poder Executivo em 1961, elegeram o ipê-amarelo, conhecido cientificamente por Tabebuia vellosoi, como a Flor Nacional.

Pertencentes à família das bignoniáceas, os ipês são incluídos no gênero tabebuia, palavra de origem tupi-guarani que significa pau ou madeira que flutua, com a qual os índios denominavam a caxeta, árvore que nasce na zona litorânea do Brasil. Apesar da etimologia do nome do gênero a que pertencem, os ipês, ou paus-d'arco, possuem madeira muito pesada (densidade entre 0,90 e 1,15 grama por centímetro cúbico), com cheiro característico devido à presença da substância lapachol, ou ipeína. Têm nomes populares variáveis para cada região e para algumas espécies: "ipê" é o nome empregado nas regiões Sul e Sudeste e "pau-d'arco" na Leste, na Norte e na Nordeste. No Pantanal Mato-Grossense é conhecido por "peúva" e em algumas regiões de Minas Gerais e Goiás por "ipeúna". Uma das espécies do cerrado, da caatinga e do Pantanal Mato-Grossense, a Tabebuia aurea é popularmente chamada de "caraibeira" no Nordeste e de "paratudo" no Pantanal.

Mesmo com a perseguição voraz dos madeireiros, o ipê tem sobrevivido à extinção graças a seu cultivo intenso para fins ornamentais. Mas jamais foi plantado visando à exploração de sua madeira. Apenas uma vez, na década de 60, uma das espécies de ipê-roxo foi seriamente ameaçada pelo comentário irresponsável de um cientista, que afirmou que o chá de sua casca curava o câncer. A existência do ipê em habitat natural nos dias atuais, contudo, é rara entre a maioria das espécies, mas felizmente sua sobrevivência está garantida porque a cada dia é mais cultivado.

Planta decídua (que se desprende precocemente), sua floração ocorre antes do surgimento da nova folhagem, sem data precisa - normalmente entre abril e setembro. Nesse período, dota-se de beleza inigualável e fugaz, traduzida pelos versos de Sílvio Ricciardi:

Ontem floriste como por encanto,
sintetizando toda a primavera;
mas tuas flores, frágeis entretanto,
tiveram o esplendor de uma quimera.
Como num sonho, ou num conto de fada,
se transformando em nívea cascata,
tuas florzinhas, em sutil balada,
caíam como se chovesse prata...

Os ipês-roxos, ou róseos na concepção de alguns, foram os mais utilizados para a extração de madeira. Uma das espécies, a Tabebuia avellanedae, nativa da Bacia do Paraná, pode ultrapassar 40 metros de altura, com diâmetro de tronco de mais de 1,2 metro. Existem três espécies de ipê-roxo, cuja floração tem aspecto característico para cada uma, tanto na forma quanto na intensidade da cor.

Os ipês de flores amarelas são os mais apreciados e plantados, quer pela beleza de sua floração, quer pelo menor porte, o que os torna mais adequados para cultivo em pequenos espaços. Existem pelo menos cinco espécies com formas arquiteturais muito diferentes entre si e cuja floração também diverge quanto à época de ocorrência e intensidade.


Por Harri Lorenzi

Harri Lorenzi, engenheiro agrônomo, diretor do Instituto Plantarum, recupera em viveiros de plantas a paisagem dos dias do Descobrimento


O nome derrubado A triste sina do pau-brasil

Durante as primeiras duas décadas que se seguiram ao Descobrimento, a Coroa portuguesa só se interessou pela exploração do pau-brasil. As árvores forneciam tinta que coloria linho, seda e algodão em tom carmesim ou rubro, as cores dos reis e nobres. Florescendo do Rio Grande do Norte até o Rio de Janeiro, a árvore deu nome aos novos domínios lusos já em 1505 (Terra de Santa Cruz do Brasil) e foi monopólio estatal até 1872, quando 70 milhões de pés já haviam sido derrubados. Comercializado por traficantes ingleses, espanhóis e franceses, o "pau de tinta" que dá nome ao Brasil perdeu muito valor com a invenção das anilinas artificiais.

 

Se é do Brasil e não é jabuticaba, não presta.

Com este ditado, o povo brasileiro homenageia a fruta característica de sua terra. É isso mesmo, a jabuticaba é uma fruta originária do Brasil, nativa da Mata Atlântica. Por isso, é mais fácil encontrá-la nos estados do sudeste e em outros que também apresentem esse bioma. Outros países da América do Sul também cultivam a jabuticaba, como Argentina e Uruguai, mas de nascença mesmo, ela é brasileira. Mas vamos combinar que fácil mesmo de encontrar a jabuticaba é dentro da barriga da gente...
Jabuticaba com a casca rompida e a polpa pra fora
Jabuticaba com a casca rompida e a polpa pra fora

Muito docinha quando madura, a jabuticaba tem em seu interior uma polpa branca, que contrasta com sua casca arroxeada. Diferente das frutas que estamos acostumados a ver crescer e se pendurar em cachos, o fruto da jabuticaba cresce preso no tronco e nos galhos da árvore. Com isso, colhê-la acaba se tornando difícil, o que eleva o preço da jabuticaba quando comercializada. Mas provavelmente, o maior prazer de se comer jabuticaba é tirá-la do pé na hora da degustação. Não é difícil viajar para um sítio ou um hotel fazenda que tenha um pé de jabuticaba para apreciação do visitante. Ainda mais porque uma das safras da jabuticaba, período em que a planta dá frutos, é junto com as férias escolares, nos meses de janeiro e fevereiro.
Apesar de um tempo de colheita curto, de agosto a setembro e de janeiro a fevereiro, a quantidade produzida por um único pé é muito grande, o que pôde gerar a comercialização de produtos manufaturados a partir do fruto da jabuticaba. Já se pode comprar vinhos, sucos, licores, geleias e até vinagre de jabuticaba. Estudada por especialistas, descobriu-se que a jabuticaba é rica em ferro, cuja deficiência no organismo pode levar à anemia. A jabuticabeira é uma árvore de grande longevidade, que demora para dar seus primeiros frutos, mas a partir da primeira safra, quanto mais velha a árvore, melhores e em maior quantidade são os frutos.
Fruto preso ao tronco
Fruto preso ao tronco
Às vezes dá tanta jabuticaba, que o pé não tem espaço suficiente para elas se alastrarem pelo tronco e galhos, então elas possivelmente cobrirão até as raízes ocasionalmente descobertas. Uma jabuticabeira é capaz de dar até uma tonelada de frutos por ano. Ela existe em diferentes variedades, mas a mais conhecida e que possui o fruto mais doce, é a Myrciaria cauliflora, popularmente conhecida como Jabuticaba-Sabará, relativa à cidade de Sabará em Minas Gerais, Brasil.

Aliás, Sabará abriga anualmente o Festival da Jabuticaba, entre o final de outubro e início de novembro. Nele, é possível encontrar diversos produtos preparados com a frutinha, como vinhos, licores, geleias, doces, sorvetes, etc. Mas a grande atração do festival é o aluguel de jabuticabeiras. Isso mesmo, o visitante aluga, por um período de tempo, uma jabuticabeira do quintal de um morador e pode comer até cansar.
Você pode plantar o seu próprio pé de jabuticaba com umas das poucas sementes que vêm envoltas na polpa, mas lembre-se de que a melhor época para o plantio é durante as chuvas e em terrenos que fiquem em até 600 m de altitude.
Além dos frutos, a jabuticabeira fornece uma madeira muito resistente, utilizada até como vigas, e as flores servem de alimento para as abelhas produzirem mel. Para o uso medicinal, a jabuticaba é indicada para conter diarreias e disenterias. Recentemente, descobriu-se que a jabuticaba tem outros valores medicinais, como proteger as artérias do coração. Além do ferro e de outras substâncias em menor quantidade, foi encontrada na composição da casca da jabuticaba, grandes quantidades de antocianinas, elementos também encontrados na uva escura e, consequentemente, no vinho tinto, que trabalham a favor do coração.
A floração marca o início do nascimento dos frutos
A floração marca o início do nascimento dos frutos

Para outro ditado, outra explicação. Se nossos avós diziam que jabuticaba se chupa no pé, é porque existe uma razão para isso. Como a fruta possui grande porção de açúcar nela, o fruto colhido começa a fermentar no mesmo dia. Por isso, o certo seria comê-la assim, fresquinha, aproveitando também sua sombra e seus galhos para descansar. Mas para quem não tem esse privilégio, o aconselhado seria guardá-la dentro de um saco plástico, dentro da geladeira, para tentar retardar ao máximo a sua fermentação.
A jabuticaba faz muito sucesso entre a criançada, devido ao seu sabor extremamente adocicado e sua árvore possuir muitos galhos e crescer no máximo até 10 m. Quem não gosta muito é mãe de comedor de jabuticaba, já que o suco que sai da casca tinge a mão de quem pega na fruta e, consequentemente, mancha com muita facilidade as roupas. E mancha de jabuticaba dificilmente sai na primeira lavagem. Portanto, comedores oficiais de jabuticaba, separem uma roupa velha para quando forem subir no pé, antes de se lambuzarem com esta delícia.

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